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1. |
A Cantigante
04:47
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Cantar
escrever palavras no ar
inventar frases de vento
moradas de pensamento
Cantar
cantiga é como vestido
usa-se até esfarrapar
o mais gasto é o preferido
Cantar
olhar o mundo c’o a boca
deixar o som ecoar
no coração onde toca
Eu canto desde menina
canto à mesa e na banheira
Se canto meu mal espanto
E às vezes sonho que canto
durante uma noite inteira
Cantar, sempre a cantar
Cantar
com a voz trepar montanhas
e nos abismos pairar
tecendo teias de aranha
Cantar
com silêncios ao avesso
e rumores de alinhavar
por defeito e por excesso
Cantar
com verdade traiçoeira
em língua familiar
e todavia estrangeira
Eu canto desde menina
canto à mesa e na banheira
Se canto meu mal espanto
E às vezes sonho que canto
durante uma noite inteira
Cantar, sempre a cantar
Cantar
baixinho para as formigas
alegre como as cigarras
fazendo fitas e figas
Cantar
buscando uma companhia
a solo ao sol e à chuva
uma cantiga por dia
Cantar
devorar versos e rimas
tragar estrofes e refrães
obras primas mais que as mães
Eu canto desde menina
canto à mesa e na banheira
Se canto meu mal espanto
E às vezes sonho que canto
durante uma noite inteira
Cantar, sempre a cantar
Cantar
contra os demónios calados
contra os santos a espiar
e os anjos dissimulados
Cantar
apesar do desalento
apesar do fingimento
apesar do sofrimento
Cantar
para morder no que é duro
para beijar o que é doce
para abraçar o que é escuro
Eu canto desde menina
canto à mesa e na banheira
Se canto meu mal espanto
E às vezes sonho que canto
durante uma noite inteira
Cantar, sempre a cantar
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2. |
Ela Não Seria Ela
03:24
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se não estivesse atrasada
se não fugisse do espelho
se não amasse o vermelho
e não andasse arrasada
ela não seria ela
se não fosse chantagista
se não temesse o pior
se não cultivasse a dor
e não virasse budista
ela não seria ela
ela não seria ela
conta-me o medo do escuro...
dizendo o pavor da luz...
pequeno monstro inseguro
que ladra, mia e seduz
se não se sentisse feia
se não se visse já velha
se não se achasse uma azelha
e não parecesse alheia
ela não seria ela
se não trocasse de roupa
se não mudasse de humor
se não morresse de amor
e se não ficasse rouca
ela não seria ela
ela não seria ela
conta-me o medo do escuro...
dizendo o pavor da luz...
pequeno monstro inseguro
que ladra, mia e seduz
se não se queixasse a Deus
se não pedinchasse aos santos
se não fosse dada a prantos
e não curtisse os troféus
ela não seria ela
se não tivesse crendices
se não teimasse em rezar
se não sofresse a brincar
e não adorasse modernices
ela não seria ela
ela não seria ela
se não hesitasse sempre
se não duvidasse muito
se não devorasse tudo
gulosa mas abstinente
ela não seria ela
se não errasse e mentisse
se não fizesse de conta
se não fizesse de tonta
e nunca nos iludisse
ela não seria ela
ela não seria ela
ela não seria ela...
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3. |
Super Superstição
03:09
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4. |
Cisne e Rouxinol
04:02
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Eu preciso de aprender
a brincar comigo mesma
perceber que a montanha pode parir um rato
e que as lágrimas
podem ser de crocodilo
em grande estilo
Preciso (de) começar
a rir das minhas tristezas
e deixar de pensar
na morte da bezerra
de cismar
com galinhas sem dentes
pois se alguém ladra
a caravana passa
Ainda assim, vê lá
não sejas tu
amigo da onça
que eu tenho
memória de elefante
e nesta vida de cão
em vez de
canto do cisne
quero ser o rouxinol
que acalma a dor
do imperador
Que bom seria olhar
como boi para palácio
pois a terra jamais pára de nos abismar
e quem não é
filho de peixe
pode nadar sem espartilho
Eu preciso de aprender
a brincar comigo mesma
perceber que a montanha pode parir um rato
e que as lágrimas
podem ser de crocodilo
em grande estilo
Ainda assim, vê lá
não sejas tu
amigo da onça
que eu tenho
memória de elefante
e se me vir às aranhas
faço uma teia distante
burra teimosa
me quero
formiga trabalhadeira
se não tiver o que espero
procuro doutra maneira
chatinha como as carraças
pés bem assentes no chão
por sorte nasci com asas
sou ave de arribação
e nesta vida de cão
em vez de
canto do cisne
quero ser o rouxinol
que acalma a dor
do imperador
que acalma a dor
do imperador
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5. |
No Baile das Bambolinas
03:59
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varanda sem Julieta
quartelada sem Romeu
cena gaga cena preta
quem aqui está não sou eu
cada vez que canto mudo
escuto o desenho da luz
canto para ser mudada
o escuro não me seduz
boneca de som
vestida de mil cortinas
no baile
das bambolinas
a luz tem a sua mesa
a cena tem uma boca
ribalta mas não baixeza
no palco posso ser louca
ao grão da voz
junto o tom
ao refrão dores de barriga
e junto o som ao frisson
do medo faço cantiga
boneca de som
vestida de mil cortinas
no baile
das bambolinas
acho que tanto me faz
ficar na cauda das vendas
ser cabeça de cartaz
ou buraco nas agendas
bichinho de camarim
a aranha desce da teia
todas as vozes em mim
se alimentam de plateia
boneca de som
vestida de mil cortinas
no baile
das bambolinas
qual a casa qual é ela
que torre que tem fosso
microfones de lapela
e microfones de rosto
que tem pano
para mangas
e cortina de veludo
estrelas
feitas de missangas
e céu de anjinho papudo
que casa
é mais do que minha
e embora
a ninguém pertença
eu lá sinto-me rainha
tão pequena e tão imensa
boneca de som
vestida de mil cortinas
no baile
das bambolinas
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6. |
Quem Bem Me Quer
03:23
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SABINA
(tom de pergunta)
Diz-me sem peias
senhora das boas ideias:
achas que a Sabina dá a mão
a uma espécie de
fantasma brincalhão
e que o seu coração
bate e se perde
por um sujeitinho verde?
SARA
Não...
Por enquanto não.
Mas quem conhece o poder
da assombração?
Quem sabe o que vale
um espectro, uma visão?
Mais do que do real
talvez se viva de ilusão
da feliz fantasia de cada dia
ou da sinistra alucinação...
E tu minha menina
se cospes
na sopa da fantasmagoria
não te queixes
se te falta a inspiração...
SABINA
(tom de pergunta)
Não leves a mal
mana das lições de moral:
achas que eu
abrace a quimera
que eu aceite
o que me vem de outra esfera
e me deixe levar por devaneios
ouvindo os seus galanteios?
SARA
Sim...
Claro que sim.
Eu cá ouço sempre
quem gosta de mim.
Quem sabe o que vale
um espectro, uma visão?
Mais do que do real
talvez se viva de ilusão
da feliz fantasia de cada dia
ou da sinistra alucinação...
E tu minha menina
não desdenhes
o ser que te tem afeição
não maltrates
a pessoa que te estima!!!
SABINA
(tom de pergunta)
Senhora cantora
armada em professora:
aceitarias namorar
com uma criatura
do outro mundo
com uma alma fugida
do outro lado da vida?
SARA
Sabina
mas nós no fundo
viemos todos do outro mundo
Quem sabe o que vale
um espectro, uma visão?
Mais do que do real
talvez se viva de ilusão
da feliz fantasia de cada dia
ou da sinistra alucinação...
E tu minha menina
em vez de brincar
à dúvida e à certeza
procura
outras formas de beleza...
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7. |
Amar e Ser Amado
03:09
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Vamos falar
do que é costume encobrir
assumir
que o amor nasce no ovo
e até quem é muito novo
precisa gritar
o desejo de amar
e ser amado
O musgo gosta do muro
A telha gosta da chuva
O olho gosta do escuro
Os dedos gostam da luva
O fuso gosta da roca
A folha gosta do vento
A boca gosta da boca
E a nuca do pensamento
Vamos falar
do que é costume encobrir
assumir
que o amor nasce no ovo
e até quem é muito novo
precisa gritar
o desejo de amar
e ser amado
A pedra gosta do chão
O peso gosta da tara
O ar gosta do pulmão
O espelho gosta da cara
A espuma gosta do seixo
A rocha do mexilhão
A queixa gosta do queixo
E o sangue do coração
Vamos falar
do que é costume encobrir
assumir
que o amor nasce no ovo
e até quem é muito novo
precisa gritar
o desejo de amar
e ser amado
A carta gosta do selo
A margem gosta do lodo
A pele gosta do pêlo
A parte gosta do todo
O altar gosta da santa
A carne gosta do osso
A voz gosta da garganta
E a cabeça do pescoço
Vamos falar
do que é costume encobrir
assumir
que o amor nasce no ovo
e até quem é muito novo
precisa gritar
o desejo de amar
e ser amado
As aves reclamam ninho
Os montes beijam o vale
Os pés querem o caminho
A língua mendiga sal
Perfume busca narina
E som precisa de orelha
O ouro grita na mina
A jovem mora na velha
Vamos falar
do que é costume encobrir
assumir
que o amor nasce no ovo
e até quem é muito novo
precisa gritar
por todo o lado
o desejo desbragado
de amar e ser amado
amar e ser amado
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8. |
Fantasputo
02:51
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Não sabes donde venho
nem quem sou
nem onde vou?
Isso é normal
e nisso sou igual a toda a gente...
Eu fantasputo passo a contar-me.
Bem vedes que sou ectoplasma,
miasma, vapor, fantasma
neto de espectro
e filho de adopção
de um assombro
e de uma assombração.
Sou órfão, essa é que é essa:
a minha infância de alma penada
de pai e mãe foi privada.
Abandonado à porta deste teatro
fui criado pelo casal residente
de fantasmas anciãos.
Recebi regularmente
lições de vampirismo
e aulas de espiritismo.
No ramo das matérias etéreas
sou um fantasma bem educado.
Mas desde a morte das velhas abantesmas
estas paredes não são as mesmas.
Para quê assombrar um casarão
tão escuro, húmido e frio
se o coração anda vazio?
Então decidi apaixonar-me
procurar uma alma gémea
e não uma alma danada
e a fim de chamar a mim
a atenção da minha amada
achei que o estado de alarme
que tem montanhas de charme
seria a estratégia mais adequada.
É que eu tenho visto muitas peças dramáticas
com personagens bastante antipáticas
que se fazem amar pelas suas presas
- meninas caprichosas
ou donzelas indefesas... –
não é verdade, ó Calu?
(CALU repete as palavras de LUCA como se estivesse a fazer tradução simultânea.)
SABINA
Ouve lá, ó homenzinho verde, tu és mesmo um marciano, meu!!! Mas fica sabendo que já começo a gostar das tuas proezas e até das tuas malvadezas. Se me aceitares como amiga, ó fantasma de uma fisga...
LUCA dá três cambalhotas. Parece ufano.
SABINA
Se me aceitares como amiga,
levo-te na minha bagagem
e de viagem em viagem
serás o espectro mais viajado
deste jardim à beira-mar plantado.
LUCA
(tristemente jubilante ou jubilantemente triste)
Eu gostava de aceitar...
mas acho que não.
Afeiçoei-me a este lugar
e hoje em dia é tão difícil
encontrar um fantasma
disposto a assombrar...
Aliás quem sabe se
agora que saí da casca
agora que saí do armário
não tenho uma super carreira artística à minha frente
– eterno celibatário,
mas já não fantasma rasca.
(Fazendo um gesto em arco com a mão.)
!!!LUCA FANTASPUTO
O ARTISTA ABSOLUTO!!!
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9. |
Bagagem
01:03
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Se me aceitares como amiga,
vens na minha bagagem
e de viagem em viagem
serás o espectro mais viajado
deste jardim à beira-mar plantado.
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10. |
Esta Outra Vida
02:57
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O meu corpo não é corpo
Não estou vivo nem estou morto
Não sou carne nem sou peixe
E não há mão que me aleije
Então só me resta a voz
Flor de garganta e de boca
Corda esticada entre nós
Ligando esta vida à outra...
O teu corpo não é corpo
Não estás vivo nem estás morto
Não és carne nem és peixe
E não há mão que te aleije
Então só te resta a voz
Flor de garganta e de boca
Corda esticada entre nós
Ligando esta vida à outra...
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11. |
O Sono das Bambolinas
01:56
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Clã Porto, Portugal
ARMÁRIO: youtu.be/eK5XxchJqtk
SINAIS: youtu.be/eDFe4mVR2cA
TUDO NO AMOR: youtu.be/VIjmGJk4aFI
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